A doméstica de Magé: uma arquitetura em oito atos

Abstract

Este ensaio busca construir uma leitura do espaço metropolitano a partir das narrativas do cotidiano de oito domésticas negras, moradoras de Magé, que trabalham como empregadas domésticas em casas dos bairros ricos do Rio de Janeiro. Em particular, essa leitura permitiu observar tanto o papel infraestrutural de certos elementos da arquitetura na construção desse cotidiano – a arquitetura funciona como um dispositivo ordinário, um fundo aparentemente neutro e natural sobre o qual profundas relações de poder herdadas do período colonial se manifestam – quanto certas inter-relações fundamentais entre as memórias dessas mulheres, seus corpos em travessia, seus sonhos e a história da cidade onde habitam. O artigo apresenta essas observações através de oito tempos fundamentais, extraídos das oito entrevistas: um dia comum, que de três em três horas denuncia e entrelaça os corpos na diáspora, o tempo que não tem início nem fim e os territórios herdados.

Este ensayo propone realizar una lectura del espacio metropolitano a través de las narrativas cotidianas de ocho mujeres domésticas negras, que viven en Magé y trabajan como empleadas domésticas en apartamentos de los barrios acomodados de Río de Janeiro. En particular, esta lectura permite observar tanto la importancia infraestructural de ciertos elementos de la arquitectura en la construcción de la cotidianidad – la arquitectura funciona como un dispositivo ordinario, un escenario aparentemente neutro y natural sobre el cual se manifiestan las profundas relaciones de poder heredadas del período colonial, así como ciertas interrelaciones fundamentales entre la memoria de estas mujeres, sus cuerpos en travesia, sus sueños y la historia de la ciudad donde viven. El artículo expone estas relaciones a través de ocho momentos fundamentales, extraídos de las ocho entrevistas: un día común, que cada tres horas denuncia y entrelazan sus cuerpos en diáspora, los territorios heredados y el tiempo que no tiene ni principio ni fin.

The essay reads the metropolitan space from the daily narratives of eight black domestic workers, residents of Magé, who work in houses in the wealthy neighborhoods of Rio de Janeiro. In particular, this reading allowed observation of both the infrastructural function of certain elements of architecture in the construction of this daily life – architecture functions as an ordinary device, an apparently neutral and natural background on which deep power relations inherited from the colonial period are manifested – as well as certain fundamental relationships between the memories of these women, their bodies crossing the metropolis, their desires and the history of the city where they live. The article presents these observations through eight fundamental times, extracted from the eight interviews: a common day, which, at every three hours, denounces and intertwines the bodies in the diaspora, the time that has no beginning or end, and the inherited territories.